ZILA MAMEDE |
"É
o chão onde nasci, e eu gostaria que ela (Nova Palmeira) fosse no Rio Grande do
Norte, porque me sinto tão norte-riograndense, que tenho susto quando olho a
minha carteira de identidade. Nisso não há nenhum preconceito contra a Paraíba.
Apenas fui transplantada muito pequena, a tempo de me sentir enraizada no Rio
Grande do Norte. Daí porque eu digo que gostaria que Nova Palmeira, a vila
fundada pelo meu avô e pelo meu padrinho de batismo, fosse no Rio Grande do
Norte. Era uma fazenda, uma vila, hoje é mais um município brasileiro, mas não
é como município, e sim, como sítio do meu avô que permanece na minha geografia
sentimental".
Zila
nasceu em 1928, em Nova Palmeira, Paraíba, onde viveu "até cinco ou seis
anos de idade" indo ao roçado do avô "comer melancia, tomate, cereja,
um tomate pequeno que brotava no mato". A família de seu pai era de Caicó,
Rio Grande do Norte; o avô materno, de Jardim do Seridó, também no Rio Grande
do Norte. "Por coincidência, todos foram morar em Picuí, Nova Palmeira e
Pedra Lavrada". As famílias se encontraram em Nova Palmeira, onde ela
nasceu.
Ainda
pequena, muda com a família para Currais Novos (RN), onde o pai monta uma
máquina beneficiadora de algodão. Menina do sertão, o mar viria a ser uma forte
presença em sua poesia. A primeira vez que o viu foi por volta dos doze ou
treze anos, aquela coisa "balançando de um lado para o outro, uma coisa
que eu jamais havia visto":
"-
Meu pai, isso é o mar?
Ele disse:
Não. Isso é um canavial".
Ele disse:
Não. Isso é um canavial".
ZILA MAMEDE |
Estavam
em um Ford 39, a caminho de Recife, onde ela finalmente veria o mar.
Em
dezembro de 1942, em plena Guerra, vai para a capital, Natal, juntar-se ao pai
que já estava desde o início da montagem da Base Aérea de Parnamirim, onde ficavam
os americanos. "Lembro que cheguei e vi aquele quintal cheio de cajueiros,
de mangueiras, chovia aquela chuva do caju e a gente não entendia como era que
chovia em dezembro, e eu corri e vi um pé de sapoti, assim esbranquiçado, e
perguntei se era um pé de ovo".
Assim
era Zila. A própria figura da menina inocente do sertão nordestino. No Colégio
da Conceição aprendeu o português que usaria com mestria. Ao terminar o curso
secundário, em 1949, foi passar uma temporada em João Pessoa e Recife com seu
padrinho de batismo, Francisco de Medeiros Dantas, um homem culto que descobriu
que a afilhada "era analfabeta em matéria de literatura" e, a partir
de então, começou a lhe dar coisas para ler.
Depois
de uma tentativa frustrada de ser freira (o que o pai não queria), voltou para
Natal e começou a sentir "saudades do céu", uma angústia existencial
que a levou a escrever. Zila tinha, então, 21 anos.
Publicou
cinco livros de poesias: Rosa de pedra (1953), Salinas (1958), O arado (1959),
Exercício da palavra (1975) e Corpo a corpo (1978). Escreveu ainda estudos
bibliográficos sobre Câmara Cascudo e João Cabral de Melo,
que a incluiu entres os maiores poetas do país.
Zila
Mamede morreu em 13 de dezembro de 1985.
Assista o curta-documentário produzido
pela TV Câmara - RN sobre a poeta Zila Mamede, em comemoração ao cinquentenário
de seu livro "O arado"
PARTE 1
PARTE 2
FONTE Clique AQUI
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